Ele voltou III



Não há contenção quando precisa tocar no assunto preferido: Bucetas. Bucetas cabeludas, bucetas desnudas, bucetões gorduchos, butetículas ensimesmadas. Fala Delas amiúde. Compulsão oral, obsessão do tempo inteiro feito uma sucuri mitológica a se perder no infinito nito ito deste mundinho bucetífero em que haverá de terminar ressequido e finalmente destituído de sua verve sobre o concreto infecundo num canto escuro duma pracinha municipal que um dia prometeu resplandecer em jardim.
Uma Fantasminha interna Embucetada evoca a Bucetinha mais mimosa que já existiu neste planeta ao longo de cem milhões de anos. Da qual não pronunciará palavra. Às vezes passa meses e até anos sem vontade de Dedar a Perinha Celestial. E olha que Elazona deu mais que cadela internada no Cil em canio municipal. Não é por aí contudo e sim, golpe baixo, com a pulsante Bucetoninha Cabeluda Túrgida Beiçudinha infantil de suas fantasias primevas oniricazudas. A Brochura tenha sido talvez desencadeada aquela noite em que, bêbado feito malabarista, desmaiou nos braços da Mesma. Talvez não. Certas Bucetáceas têm esse dom. O que interessa é que ele fez a travessia do tempo sonhando a maior parte, quer dizer, quase, isto é, beco sem saída, sorry, acontece.
A Fantasminha interna lamenta não ser afeita a pintolins. Alega, equivocadamente, apressada qual uma doninha de casa prestes a deixar a cria no portão da escola e retornar quanto antes para o braços de músculos tesos e bem-definidos do Raimundão, faxineiro recém contratado pelo condomínio expert em ressuscitar bucetas classe-média à beira do mofo eterno, que pistolinos ensejam muito mais metáforas, comparações, metonímias e alegorias. Engano. Grandes escritores fantasmagóricos não podem virar falófilos por força das circunstâncias, esquecer sua missão no mundo por calculismo ignóbil. Explorar a Origem de Todos os Males é deste fado mote e tapeação gentil. Não estaria sendo nem um pouco sincero assim não fosse.


Tudo

A aml tem de tomar uma atitude. Neste exato momento ele está em algum lugar lá fora cometendo das suas. Até quando vamos permanecer inertes enquanto ele vai disseminando a cultura guarany pelas mais remotas plaguas deste país, levando makakitos a comer cada dia mais pizza e a brochar cada dia mais retumbantes e nossas mulheres a se atirar hipnotizadas nos braços dos nossos vizinhos, patrões, empregados, frentistas e, sobretudo, entregadores, sem falar dos faxineiros? Há que fazer algo a respeito imediatamente. Nosso maior erro foi ter vacilado quando ele afirmou com todas as letras que seu romance abordaria principalmente o órgão genital feminino. Se o tivéssemos eliminado então, impedindo que publicasse o livro, que suas idéias forasteiras permeassem o imaginário dos nacionais, teríamos evitado a tragédia. Avisamos, ninguém nos quis dar ouvidos. Eis o resultado. Agora queremos saber: até quano vamos ficar assistino de braços cruzados?


III

Alguns anos depois não pôde resistir e rendeu-se a este poema pensando nela:

Queremos morrer antes
Muito antes, amor, e
Se quiseres, se deixares,
Esperar morto que as
Asas desabrochem e as unhas
Parem de crescer e os pensamentos
Se purifiquem e então se  possa ressuscitar
Sombra e pairar atrás de ti, te
Guardando anjo do anjo, até a
Hora da tua partida para que venhas
Te juntar a si e a si libertar


I

Quando Giraldi publicou EEUSEUTEUROM-EUPIROCOORFEUDOEUMEUEUE, Plinio Santos, presidente da academiamakakitadeletras, convocou os imortais para sessão extraordinária imediata. Os acadêmicos em peso expressaram desejo de comparecer — o único problema foi o horário: 3:15 da manhã.
Como é sobejamente sabido, o nascimento do mais jovem membro da aml remonta ao século xix, sendo 122 anos a idade média dos imortais. Portanto, tirá-los de suas camas às três da matina e obrigá-los a se lomover até o velho prédio no Castelo, construído em 1922 pelo governo francês em homenagem ao centenário da independência do Brasil e no ano seguinte doado pelos sapos à aml, seria tarefa razoavelmente difícil. As enfermeiras não estavam logrando arrancar os preclaros anciãos de suas máscaras de oxigênio.
— Diga que a aposentadoria deles está em risco — recomendou a secretária do presidente a cada uma delas.
Tiro e, ui, queda. Em poucos minutos a primeira limo parou diante do velho prédio estilo Tudor da avenida Presidente Wilson e o primeiro imortal foi trazido ao grande salão de reuniões em sua cadeira de rodas dourada com ornamentos em prata e estanho.


II

A porta do passageiro se escancara. Dois estranhos entram.
Putz. Como foi deixar a porta destrancada?
Homens de terno e gravata escuros. Cisudos e distintos. Um senta atrás. Outro ao lado.
— Segue — o do lado diz.
— Que cazzo?
Ergue um braço na direção do homem. O sujeito afasta uma das abas do paletó, a coronha madrepérola da pistola reluz incomodamente. O detrás pressiona um troço pontudo duro contra seu fígado.
— Segue. Devagar. Sem frescura.
Ensaia outra reclamação. A dureza no fígado machuca. Acelera devagarinho.
Desce a Augusta, passa pela Colômbia, atravessa a Europa.
— Entra na Faria Lima — o do lado ordena.
Passa pelo Iguatemi, dá vontade de descer e traçar um sanduíche de peito de peru c’um suco de melancia e salsão. Para no farol da Rebouças. Um peême postado na esquina anota multas no talão. O sujeito detrás cutuca seguidamente o cano em seu fígado. O do lado enfia a mão sob o paletó. Considera as opções: buzinar, arrancar fritando os pneus, saltar do carro. Todas as três.
— Não vale a pena. Acredite — o do lado diz.