Só
Não há contenção quando precisa tocar no
assunto preferido: Bucetas. Bucetas cabeludas, bucetas desnudas, bucetões
gorduchos, butetículas ensimesmadas. Fala Delas amiúde. Compulsão oral,
obsessão do tempo inteiro feito uma sucuri mitológica a se perder no infinito
nito ito deste mundinho bucetífero em que haverá de terminar ressequido e
finalmente destituído de sua verve sobre o concreto infecundo num canto escuro
duma pracinha municipal que um dia prometeu resplandecer em jardim.
Uma Fantasminha interna Embucetada evoca
a Bucetinha mais mimosa que já existiu neste planeta ao longo de cem milhões de
anos. Da qual não pronunciará palavra. Às vezes passa meses e até anos sem vontade
de Dedar a Perinha Celestial. E olha que Elazona deu mais que cadela internada
no Cil em canio municipal. Não é por aí contudo e sim, golpe baixo, com a
pulsante Bucetoninha Cabeluda Túrgida Beiçudinha infantil de suas fantasias
primevas oniricazudas. A Brochura tenha sido talvez desencadeada aquela noite
em que, bêbado feito malabarista, desmaiou nos braços da Mesma. Talvez não.
Certas Bucetáceas têm esse dom. O que interessa é que ele fez a travessia do
tempo sonhando a maior parte, quer dizer, quase, isto é, beco sem saída, sorry,
acontece.
A Fantasminha interna lamenta não ser
afeita a pintolins. Alega, equivocadamente, apressada qual uma doninha de casa
prestes a deixar a cria no portão da escola e retornar quanto antes para o
braços de músculos tesos e bem-definidos do Raimundão, faxineiro recém
contratado pelo condomínio expert em ressuscitar bucetas classe-média à beira
do mofo eterno, que pistolinos ensejam muito mais metáforas, comparações,
metonímias e alegorias. Engano. Grandes escritores fantasmagóricos não podem
virar falófilos por força das circunstâncias, esquecer sua missão no mundo por
calculismo ignóbil. Explorar a Origem de Todos os Males é deste fado mote e tapeação
gentil. Não estaria sendo nem um pouco sincero assim não fosse.
Tudo
A aml tem de tomar uma atitude. Neste
exato momento ele está em algum lugar lá fora cometendo das suas. Até quando
vamos permanecer inertes enquanto ele vai disseminando a cultura guarany pelas
mais remotas plaguas deste país, levando makakitos a comer cada dia mais pizza
e a brochar cada dia mais retumbantes e nossas mulheres a se atirar
hipnotizadas nos braços dos nossos vizinhos, patrões, empregados, frentistas e,
sobretudo, entregadores, sem falar dos faxineiros? Há que fazer algo a respeito
imediatamente. Nosso maior erro foi ter vacilado quando ele afirmou com todas
as letras que seu romance abordaria principalmente o órgão genital feminino. Se
o tivéssemos eliminado então, impedindo que publicasse o livro, que suas idéias
forasteiras permeassem o imaginário dos nacionais, teríamos evitado a tragédia.
Avisamos, ninguém nos quis dar ouvidos. Eis o resultado. Agora queremos saber:
até quano vamos ficar assistino de braços cruzados?
III
Alguns anos depois não pôde resistir e
rendeu-se a este poema pensando nela:
Queremos morrer
antes
Muito antes,
amor, e
Se quiseres, se
deixares,
Esperar morto
que as
Asas desabrochem
e as unhas
Parem de
crescer e os pensamentos
Se purifiquem e
então se possa ressuscitar
Sombra e pairar
atrás de ti, te
Guardando anjo
do anjo, até a
Hora da tua
partida para que venhas
Te juntar a si
e a si libertar
I
Quando Giraldi publicou
EEUSEUTEUROM-EUPIROCOORFEUDOEUMEUEUE, Plinio Santos, presidente da
academiamakakitadeletras, convocou os imortais para sessão extraordinária
imediata. Os acadêmicos em peso expressaram desejo de comparecer — o único
problema foi o horário: 3:15 da manhã.
Como é sobejamente sabido, o nascimento
do mais jovem membro da aml remonta ao século xix, sendo 122 anos a idade média
dos imortais. Portanto, tirá-los de suas camas às três da matina e obrigá-los a
se lomover até o velho prédio no Castelo, construído em 1922 pelo governo
francês em homenagem ao centenário da independência do Brasil e no ano seguinte
doado pelos sapos à aml, seria tarefa razoavelmente difícil. As enfermeiras não
estavam logrando arrancar os preclaros anciãos de suas máscaras de oxigênio.
— Diga que a aposentadoria deles está em
risco — recomendou a secretária do presidente a cada uma delas.
Tiro e, ui, queda. Em poucos minutos a
primeira limo parou diante do velho prédio estilo Tudor da avenida Presidente Wilson
e o primeiro imortal foi trazido ao grande salão de reuniões em sua cadeira de
rodas dourada com ornamentos em prata e estanho.
II
A porta do passageiro se escancara. Dois estranhos
entram.
Putz. Como foi deixar a porta
destrancada?
Homens de terno e gravata escuros.
Cisudos e distintos. Um senta atrás. Outro ao lado.
— Segue — o do lado diz.
— Que cazzo?
Ergue um braço na direção do homem. O sujeito
afasta uma das abas do paletó, a coronha madrepérola da pistola reluz incomodamente. O
detrás pressiona um troço pontudo duro contra seu fígado.
— Segue. Devagar. Sem frescura.
Ensaia outra reclamação. A dureza no
fígado machuca. Acelera devagarinho.
Desce a Augusta, passa pela Colômbia,
atravessa a Europa.
— Entra na Faria Lima — o do lado ordena.
Passa pelo Iguatemi, dá vontade de descer
e traçar um sanduíche de peito de peru c’um suco de melancia e salsão. Para no
farol da Rebouças. Um peême postado na esquina anota multas no talão. O
sujeito detrás cutuca seguidamente o cano em seu fígado. O do lado enfia a mão
sob o paletó. Considera as opções: buzinar, arrancar fritando os pneus, saltar do
carro. Todas as três.
— Não vale a pena. Acredite — o do lado
diz.