Ele voltou V

continuação de Ele voltou IV

Um dos sentimentos que os severílsones mais gostam de cultivar, inconscientemente, os mais singelos, ou não, os sem-vergonhas, é o princípio do destino. Religiões e crenças e rezas e esperanças todas pressupõem que o futuro está determinado e que só nos resta ficar à espera dele. Mas há descontos. Por exemplo, para que se garanta um mínimo de magnanimidade ou para que os mais desesperados não se suicidem ante a ignomínia, podemos fazer algo por nós mesmos enquanto a vida, o dia, a noite, o tempo, o furacão esperam. Esse ínterim é nossa margem de manobra. É como se dissessem, está tudo decidido mas seja feliz enquanto isso, finja que não sabe, que não é com você, o fato de que tua hora e teu lugar já estão marcados não te impede de lutar pelo “avanço”. Enquanto o destino não chega, cabe-nos, dependendo da personalidade de cada um, relaxar viajar trepar cheirar roubar gozar sofrer, se a vítima for das mais ardorosas em termos de religião, tomando de barato que esta Merda é um pré-estágio do paraíso. Uóxito. Somos os mecânicos de deus. Esse tipo de gente — nunca conhecemos alguém que de alguma forma não fosse determinista — não tolera a incerteza. E a incerteza é a única constante de nossa vida. Cada gota de suor que derramamos é para fugir dela. Cada um dos nossos pensamentos, cada uma das nossas emoções, cada um dos nossos horizontes, Uóxito, está baseado na luta para suprimi-la. À medida que crescemos e tomamos pé das coisas e dos aldaílsones que nos cercam, eliminamos seletivamente todos os caminhos que, sabe-se no fundo, somos capazes de seguir mas que logo concluímos que não nos interessam porque aonde vão nos levar é um enigma. E quando chegamos à idade adulta, ao nível de consciência que chamamos maturidade, não podemos mais optar.

continua em Ele voltou VI