Ele voltou VI

continuação de Ele voltou V

Quando chegamos à casa o Miata está parado em frente. A mão pousa no capuz auscultando o motor. Quente. Tanto quanto nossa Bucetona Agasalhadora. Então chegou há pouco.
A vida toda para isso. Antes tivesse nascido muçulmana. O jeito como age, perdemos a confiança. As “outras”. A professora universitária Eliana. A frequentadora de academia de ginástica Bárbara. A vendedora de comésticos Sônia. A carta que escrevemos não adiantou nada. Disse que isso é contra a Natureza. Quer coisa pior? disse, ir contra a própria Natureza? Temos tantas preocupações. Não é de surpreender, diz. Quem não tem? Sete anos nessa vida — entrei nos trinta junto com você. Pior — construí nossa vida contando com você. Então vem sussurrando pertinho da nossa orelha, diz que só sei fazer acusações, enfia o dedo na nossa Buceta, outro no Cú, me faz gozar. Gozo saboreando a razão das dedadas. Predispõe ao sexo. À reprodução. Como se todas as mulheres envolvidas com ele de repente se tornassem meras máquinas de parir. Com ele temos felicidade mas não paz. Como tergiversar c’um harém? Por isso queria ser muç-ul-m-na-a. Ia ser mais gostoso ainda. Quanto mais normas a ser violadas mais dedonildo ele fica. Estamos até vendo. Ia me chamar de aiatolazinha do Mahmoud, guerreiro comandante dum clã curdo célebre por ter comido o maior número de mulheres no século, bravo insopitável temente de Alá, pai de 241 filhos e filhas. De onde veio o insopitável? Foi exatamente por ter tamanha e insopitável prole que Mahmoud ousou enfrentar o império do Oeste, logrando vitórias espetaculares. Liderou uma série de revoltas que culminaram na insopitável derrocada dos sórdidos biguemaqueanos, que já se achavam os donos da cocada preta pelo resto… dos… tempos... Que belo jardim tem a Bárbara. Sempre quis ter um cheioderosastodocolorido. Mas como é que uma órfã vai querer ter um jardim, sua burra. Não teve mãe e pai, não sabe de onde veio, cresceu jogada dum lado a outro, virou prostituta pra não morrer de fome, matou um homem que te queria empalar com um… não gostamos nem de lembrar. Tua consciência é só matança, vive em estado permanente de guerra, persegue uma ordem que não pode existir, cabeça cheia de bizarrices, não sabe nem o que é melhor para você mesma, ainda delira em ter jardim, cretina. Mas esse podia ser o primeiro passo. Temos de dar o primeiro passo. Tudo tem um começo. Não tem? (O que é bom sim, o que é ruim não.) As coisas vão indo, não vão? Um pouco. Há nuvens em todo lugar menos no jardim da bárbara. Ele não gosta de discussões, diz que ficar pondo tudo em dúvida é coisa de anglossaxão, até o mesmo aquele cheque gordo que você deu à Bárbara? Vimos o canhoto, putadumagrana. Isso você não quer discutir. Não discuta nossas práticas, ordena. Que Porra é essa? Qualquer um diria nossos assuntos, nossas coisas, nossa vida, nossos hábitos, nossas manias, nossos negócios. Você não passa duma bostinha que tem preconceito até das palavras. É que soa tão… meio irreal. Parece que você está vivendo um personagem. Cada um de nós vive um personagem, diz. O que pode, não o que quer. Lá vem essa história de novo. Pra ele é fácil brincar de viver. Se tivesse sido obrigado a dar o Rabo para ter um teto ia ver com quantos Paus se faz um ganhapão. É o que os calhordas do computador chamam de diletante. Me chama de Diletantezinhofilhodumcorno. Diletantezinho quer dedar Cuzinho. Diletantezinho quer dedar Issinho, quer dedar Aquilinho. Só que não prova nada. Viver arbitrariamente é o único modo de ter controle sobre nós mesmos, sentencia o bocó. E eu que é somos cheia de idéias. Que quer dizer isso? Viver arbitrariamente é o único modo de ter controle sobre nós mesmos. Foder as outras arbitrariamente é que é o único modo de você ter controle sobre mim mesma. Come dez no rio come vinte em horrendussampa come trinta na suíte do caráleo, come em brasília em lisboa na suíça. E se acha revolucionário. Ameacei sonegar a menina, disse não manipule a coitada assim. Dá pra repetir? Peraí, a mente acha que estamos surda. Nossos ouvidos deliram. Dá pra repetir? Não manipule assim. Eu manipular a bichinha? Deusmeu, socorrei esta pobre pecadora. Nem aquele mineiro que nos alugou um apê em Sampa e me dava uma Puta duma mesada nos deixou tão furiosa. Quando vinha com os amigos todos bêbados e cheirados até que dava pra encarar, também curtia o forrobodó, aquela trempa de cães tarados fazendo fila para cobrir a fêmea no cio, enrabada por sete ao mesmo tempo, engolindo Porra que nem Quiçucobento, fazia até bem, não precisava nem jantar, todas as vitaminas proteínas aminoácidos que você precisa, segundo o mineirinho Bomderrola, curtia assistir dois dos amigos me Dedar a Buceta duma só vez, dois Pintos na Xoxota, plenitude, a Buceta é muito grande prum pinto só, Porra se pode dar passagem prum bebê nascer também pode receber dois, três pintos, é mas três já complica, fisicamente é meio complicado, dois fica um em cima outro embaixo, até viciei em tomar Porra, não podíamos passar sem, telefonava e lá vinha o mineirinho com seu bando, batiam Punheta em fila e eu ia dum num feito abelinha sugando o pólen dos estames rijos e carmesins que se inseriam até nossa garganta, sensação estéril de sufocamento, pedia pra me taparem as narinas, cada sugada uma aventura, uma desventura, as bizarras estripulias da potrinha desvairada, então me punham de pontacabeça, me viravam do avesso, me deixavam sem rumo, um dia o desgraçado me chega sozinho c’uns trocinhos numa valise, são dispositivos do amor, me faz deitar na cama e me gruda na pele uma dúzia de ventosas nos calcanhares, na testa, no peito igual a quando a gente faz eletrocardiograma, tira da valise um aparelhinho cheio de botões, conecta os tubos nele, liga o troço numa tomada elétrica, agora você vai ver o que é gozar de verdade, que coisa é essa? when it comes to sexo tem maluco disposto a tudo, aperta um botão e sentimos um leve choque, relaxo, um prurido me percorre o corpo a espinha do cócix à nuca, a eletricidade do amor, diz, ai que gostoso, agora a gente vai transar assim, você vai ver que bom, é melhor do que dar uns tapas antes, destrava a libido, a gente fica bicho, vai viciar em eletricidade, vai enfiar lâmpada no rabo para ver se acende, abelinha de bundinha iluminada voejando pela quitinete, me come nosso mineiro alentado, me morde nosso minotauro das alterosas, dá ao nosso corpo nosso quinhão de Esporra, que Merda de minotauro é essa? Deixa pra lá, só me come de repente zás, um raio paralisante me deixa confusa, ouço um berro na orelha, aaaaaaaaaaaaaaaa. Que esporrada. Isso é que é gozar, tua Buceta fechou em torno do nosso Pau como se fosse o grampo de deus, o punho da deusa, a deusa do orgasmo. Quase me mata. Atordoada, não consigo atinar as idéias, levamos vários minutos para me recompor, se fizer isso de novo te mato, te capo, te arranco as bolas, zááás outro, a mente acha que desmaio, quando as mãos dão por nós estamos virada de bruços, alguma coisa pontuda me cutucando o reto, espicaçando, querendo entrar no nosso intestino, me pomos a gritar zás consigo arrancar algumas ventosas, me livro, a eletricidade tinha me dado a força dum cavalo, agarramos o desgraçado na garganta, enfio as unhas com todo o ódio que podemos reunir, puxamos a mão para baixo com os dedos em forma de garras, as unhas vêm cheias de pele e sangue, levamos a mão para trás do corpo, tateio e empunho o que está enterrado no nosso rabo, um guarda-chuva, arrancouivandodedor, mineiro tenta me esmurrar mas antes acerto-lhe o saco c’um pontapé, dobra o corpo, quando torna a se levantar as mãos fecham os olhos e me lanço-me com o guarda-chuva apontado para seu rosto, reabro os olhos a ponta do tá fincada na boca dele, sentimos alívio, mesmo com aquela Porra na garganta ele grunhe feito um porco chia feito um rato braços abertos sem saber o que fazer, dou-lhe outro pontapé no saco mas não acusa o golpe, resfolega, empunho o cabo do guarda-chuva e as mãos dão um puxão, a Porra se desprende duma vez e caio de bunda no chão, mineiro tampa a boca com as duas mãos, começamos a gritar, me deixa ver o que houve, me deixa ver, ele abaixa os braços, arremesso o guarda-chuva contra o rosto dele na altura dos olhos, a ponta do guarda-chave se crava numa das cavidades oculares, cai, de costas, pulo por cima botando o peso do corpo sobre o guarda-chuva que penetra mais uns quinze centímetros crânio adentro.
Que dispositivo. A mente acha que se passaram algumas semanas antes que eu pudesse recuperar nosso estado normal.
O corpo fica dependente físico. Começamos a falar em processos. Processo da vida, processo da morte, processo da submissão feminina. Para com essa Porra de processo. Mas é o processo, que culpa temos disso? Outra coisa — não podemos ver nada que tenha cabo — com algumas exceções. Se virei ninfomaníaca? Já era e não sabia. Vivo suplicando o pinto dele. Está prestes a publicar seu livro. Dá um tempo. Mas é chupetinha sódoisminutos. Sem choque. Não admito que atrapalhe nosso trabalho. Seu livro fala de nós? Fala. O quê? Que você é uma doida viciada em Porra e eletrocussão. Bebe um vinho. Outro dia, sem querer, sem querer tá ouvindo, sem querer os olhos olham seu computador e tinha um email que falava em plágio, cópia, que o último livro que você publicou era um embuste, um tal de Giraldi. É verdade? Ué por que essa pergunta agora? Sabe de onde vem a grana que as mãos dão? Esse padrão de vida que leva? Não gostamos de biguemaquianofilia. Giraldi é da teoria de que a corrente elétrica se bem usada pode ser uma experiência interessante para restaurar nossa capacidade de prazer. Um, o cristal e o vinho é o mais saboroso dos casamentos. Por favor pare de me observar. Assim em volta da cabeça. Não gostamos que me olhem o rosto enquanto estamos sonhando que estamos gozando. Fica agônico não fica? Prazer demais desfigura a beleza humana. Não acredito que tenha feito isso — não teria coragem. Covarde. Ai. Estamos cruzando a fronteira.

continua em Ele voltou VII