Inacílsones têm essa mania intolerável de
dar conselhos. Você não pede mas eles dão mesmo assim. Te acham um coió
eternamente à procura dum mestre pra te ensinar coisas. E essa aporrinhação
está sempre associada a outra: adoram explicar. Explicar o quê? Explicar tudo.
Acham que tudo e o estoque do Extra Penha merece ser investigado. Talvez. Mas
não precisa, Porra. Tudo, não. Às vezes. Venha conosco, nos sentemos nesta
mureta, veja, a tarde cai, a noite vem, Caralho, não dá nem pra pensar, os
araribaílsones passam na calçada e os olhos vão olhando, meio conectados em
cada olhar estranho, demorando mais num, desviando logo o olhar doutro,
alguns aceitam a intrusão, se reconhecem etnicamente em tua curiosidade inócua,
outros de pronto te hostilizam, mas só o suficiente pra você não insistir,
ninguém está ali ao cair da tarde pra comprar briga, chapa, este é o nosso
mundo, esta é a nossa tarde, todos somos ameriquílsones, te entendemos, cara, pode olhar à vontade, sabemos que não vai abusar, tem semancol, ai que gostoso
flutuar na noitinha no tapete mágico do nosso acordo tácito. Não abuso não
abusas não abusa abusemos não. Só balança as pernas na mureta sem estragar.
Tudo chama tua atenção igualitariamente. A penumbra, os sons de longe abafados,
a sensação da luz, o farfalhar da roupa dele que passa, o alarido agradável da
molecada gastando energia. Ai que país pragmático. Eterna penumbra morenamente
democrática. Jogue energia fora não, menina. Oi que vai precisar. Não
vamos defender os meninos não. Vocês estão ganhando. Dez anos é? Eu também não.
O dia vai desaparecendo. Teresílsones evoluindo. Não ando com lápis, senão
ia ter de escrever toda hora. Lembra quando foi a uma vila caiçara? Sim, veja,
estes são os trópicos. Temos aqui um comportamento compatível com a importância
de todas as coisas. Olha lá. Ai que corpo. Não, não estraga, só balança
as pernas. Será que o rebolado interfere nos movimentos da Bucetinha? Ai esses
processos internos. O jornaocionao vai começar, hinozinho a ceciílson, mas que
olho mais torto esse, outra noite chegando. Ele fala através de nós. Quem?
Deus. Mora em mim. Esse aí tem uma tatuagem no calcanhar, sensação abstrata de
estar aqui. Oitenta anos. Nenhum objetivo. Nada de decisões então. Hum que
olhadinha mais íntima, onde já vimos? Não, não é. Ninguém atento à nossa presença, somos muitos,
muitos, muitos. Aproximadamente. Ele foi condenado por estrupro, diz um ao
outro. Já temos idade suficiente, sabemos cumprir nosso dever. Precisa ser
macho para ter flexibilidade, diz o outro. Um exército de grilos entoa odes
além da luz. Como podemos saber isso? Sempre precisam de algo mais. Pobreza e
liberdade. Experimente você também johnny. Tinha um amiguinho imaginário
chamado johnny. Vai ver que nuvens azuis também. Será verdade que estamos bem
no centro? Sim, por isso somos livres. Somos homem honrado, diz o olhar rígido desse.
Podemos falar conosco? No momento não estamos, volte amanhã. Agora vivo num
mundo novo, o velho Quecephoda. Olha. A estrela cadente rabiscando o firmamento
rumo a Júpiter — destroços de deus. Falando sério, anda depressa. Ai que fome
de amor que não nos dá vontade de dedar. Esse outro tem o olhar no futuro, está
em reunião consigo mesmo. Pessoas na rua morrendo. Você queria ser mulher? A
ideia não sabe, como será ter Buceta? Deve dar uma Puta duma insegurança. Você acha que
os homens são satélites das mulheres? Sim, e isso é o mais impressionante. Eu
somos. Dessa aí, por exemplo. Gravitemos em segurança, neném. Este é o país da
bola, o país das botas, livro sem páginas. Eles estão contentes. O mundo
estruturado. Tudo pronto. Como são íntimos os artuílsones. Leia em voz alta.
Precisamos liberar a desordem dos nossos corações e fazer da violação a regra,
do crime a lei. Experimente você também johnny, que você ainda tem paciência.
Mas me respeite por favor.
continua em Ele voltou XI
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